quinta-feira, 19 de março de 2009

Fé, indubitável fé

Antes de iniciar tal postagem, gostaria de agradecer a visita de todos, agradecer os comentários e pedir desculpas pela demora nas respostas (daqueles que respondi, tem gente que ainda espera um sinal de vida meu...aguarde, por favor!!!), peço também para que deixem seus e-mails para que possam receber notícias referentes a temática do blog e a agenda cultural do Empório São Francisco e as datas das visitas monitoradas realizadas no Cemitério da Consolação.


Agradeço aos blogs amigos e a todos visitantes do Cemitério da Consolação, que por mim foram monitorados, em especial Professor Paulo, Professora Fátima, Professor Danilo, Professora Patrícia, Professora Dani, Rogério, Kleber, Carol, Carol, Thamires e Paulo "Cabeça".
Os marcadores de páginas personalizados estão disponíveis no Empório São Francisco, retire o seu !!!


Se você produz cultura, arte ou mesmo tem um tema relevante a expôr, palestrar e discutir, o Empório São Francisco o aguarda para uma tarde cultural, agende com Sérgio ou Juliana.

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Longe de mim criticar ou julgar as religiões, afinal não é função deste blog, apenas prefiro optar por nenhuma delas. Porém é claro e notório que tais religiões estão diretamente ligadas aos cemitérios (foco deste blog). Desde o advento dos cemitérios, propriamente ditos, quando a prática de sepultar os mortos não mais é função da Igreja temos o surgimento de cemitérios específicos para algumas religiões, que seguem seus rituais e costumes (semitas, protestantes, dissidências da igreja católica) O resultado, obviamente, são os motivos religiosos exaltados nas artes tumulares, nem mesmo artistas renomados, como Brecheret escapa desta tendência. Trata-se da inexplicável fé que cada ser possui, muitas vezes contrariando seus dogmas religiosos. Desta fé não duvido, menos ainda condeno, pois o acumulo desta energia e logo após arremessada no "alvo" correto, benefícios são alcançados.


Fé e cemitérios, juntados a uma história comovente de vida , temos então o enaltecimento de personalidades que com o tempo se convertem em "santos populares", que ainda não foram (ou nunca serão) beatificados ou canonizados. Não possuem uma data oficial para celebrar o seu dia, menos ainda uma paróquia para receber os seus fiéis. Seus altares estão sempre floridos, seus altares são seus túmulos, pois ali é o lugar que o "fiel" esta mais próximo (materialmente) do seu protetor.


Túmulo de Antoninho da Rocha Marmo - Acervo pessoal de Mauro A. Rizo


Muito popular em São Paulo, mais precisamente no Cemitério da Consolação, é o túmulo de Santo Antoninho (Antoninho da Rocha Marmo), o garoto do bairro da Aclimação, que na sua infância expunha imagens de santos na janela de seu quarto que dava para a rua, revelando também a quem quisesse ouvir a sua vontade (vocação) de ser padre (tendo realizado até mesmo missas extra oficiais). Seu falecimento se dá por conta de um mal, digamos, comum da época (final da década de 1920) a tuberculose. Por se tratar de um "anjinho" (não é sarcasmo, essa é a maneira que se trata crianças que vem a falecer) é tido como benemérito e a ele se atribui muitos milagres, tanto que é quase impossível observar qual a cor da mármore de seu túmulo, dado a quantidade de placas de agradecimentos referente às graças alcançadas, tanto de pessoas conhecidas como o apresentador sertanejo Marcelo Costa e o Cantor Beto Barbosa, mas é claro que o maior número de fiéis e peregrinos são de anônimos.



Placa de agradecimento no túmulo de Santo Antoninho - Acervo pessoal de Mauro A. Rizo



Neste mesmo cemitério encontramos placas de agradecimento, velas, flores e devoção a Maria Judith Barros , que infelizmente não tem tamanha notoriedade se comparado a Santo Antoninho. Sua história é sombria e pouco disseminada (pela falta de fontes comprovatórias), mas o que se sabe é que era mal tratada pelo marido e ficou alguns anos presa no porão de casa. O General Marcondes também possui suas placas de agradecimento, porém, entrando em contato com sua viúva que ostenta um verdadeiro memorial virtual , não obtivemos resposta sobre um possível processo de canonização e nem dos milagres atribuídos a ele. E por ai vai: Treze almas do edifício Joelma, Bento do Portão, Isabela Nardoni...


O mais interessante é a divisão natural que o catolicismo propõe, divisão que pelo incrível que pareça, não é social, pois até mesmo empresários de renome, membros da "alta" sociedade que fogem da tradicional e oficial doutrina, possuem suas iniciais gravadas nas tais placas de agradecimentos que revestem estes túmulos.


Independente de separar, ou não, a fé da ciência, é importante para a conservação da memória o enaltecimento destes Santos, pois valoriza o turismo cemiterial, a arte tumular e desmitifica o espaço Cemitério.


(Aguardando mais relatos sobre Santos Populares, fiquem à vontade para postar.)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cemitério Bom Jesus de Paranapiacaba








Sobre o trabalho realizado em Paranapiacaba, tenho a revelar que foi uma pesquisa árdua em pouco espaço de tempo e influências exteriores que fizeram atrasar a entrega do mesmo, mas no final foi satisfatória(eu esperava muito mais de mim) dado a equação tempo e disponibilidade de ir a campo para pesquisas. Me comprometi a melhorar o que foi apresentado como TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que veio a perpetuar minha graduação e História. Desde o início do curso tinha a vontade de falar sobre o ABC, seu movimento operário e as pessoas que construiram a região. Foi pensado em retratar todo o movimento operário desde o advento das linhas férreas do Alto da Serra (Paranapiacaba) passando pelo Anarco- sindicalismo, a chegada da indústria automobilística, as grandes greves até os dias de hoje (ou de ontem). Porém outra vertente me tirava de tal caminho, a vontade e necessidade de mostrar fontes alternativas para o estudo e as pesquisas históricas. O palco escolhido foi o Cemitério, tema que após apresentado por Eduardo Rezende, grande "Cemiterialista", veio a me facinar e confundir tudo aquilo que almejava. A confusão se desfez quando consegui juntar os dois temas: lutas de classes no ABC e cemitérios. assim nasceu o tema trabalhado, o grande questionamento era: "como o Cemitério Bom Jesus de Paranapiacaba conta a História deste vilarejo?" .


Alguns frutos (suculentos) foram colhidos - primeiro concluir o curso de licenciatura em história, depois a possibilidade de publicar esse estudo e por fim mas tão importante quanto aos demais, a exposição das fotos tiradas nas pesquisas de campo, que o Empório São Francisco promoveu no dia 17 de janeiro deste ano. Mais uma vez agradeço a presença de todos amigos que lá estiveram prestigiando a exposição e mais ainda o dueto de guitarras "The Dumb".










segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Para começar...

Sejam bem vindos, senhoras e senhores!
Quero deixar claro aqui que não se trata de um blog com histórias surreais que contamos em volta da fogueira, pode não parecer mas tem uma pitada científica, porém não nos prenderemos apenas nos artigos e publicações acadêmicas. Em princípio, história cemiterial envolve desde a instalação do cemitério em determinada localidade, as histórias daqueles que ali habitam eternamente (tendo notoriedade ou não), peculiaridades do cemitério segundo sua tipologia e a tradução da arte tumular através da iconografia, basicamente: "qual a intenção de tal adorno sobre este túmulo?".
A divulgação de estudos e descobertas neste campo de pesquisa passarão por aqui também, bem como, eventos culturais a esse respeito (ou de outra natureza, eventos culturais são sempre bem vindos).
Mas já colocando a mão na massa - ou no teclado - (que infame!) demonstrarei como a cultura está ligada diretamente aos estudos cemiteriais. Como sabemos, o Cemitério da Consolação abriga os restos mortais de grandes notoriedades além de ser chamado de museu a céu aberto por suas obras de arte valiosíssimas sobre os túmulos, artistas como Brecherett, Nicola Rollo, Galileo Emendabili, Eugenio Prati, Materno Giribaldi, Leopoldo e Silva, entre outros, mas enfim, dentre as notoriedades destacamos os "Modernistas de 1922", mais especificamente Mário de Andrade, que lá está enterrado, e que em vida deixou declarações e mais declarações de amor a cidade de São Paulo, com uma de suas obras metafóricas fecho este primeiro post aguardando comentários. Abraço a todos.
Quando eu morrer eu quero ficar
(Mário de Andrade)
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça,
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.